Vacinação de adolescente

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Acredito que na atual situação em que estamos a minoria ainda não se vacinou.

Estamos cansados de saber que na Covid-19 a vacinação protege muito.

Um estudo denominado COVID-NET do CDC revelou que pessoas não vacinadas tiveram 17x mais chance de serem hospitalizadas do que aqueles completamente vacinados.

Sabemos que os riscos da Covid-19 são bem menores para crianças e adolescentes.

Casos graves e mortes são muito raros. Mas acontecem.

Algumas informações bem importantes foram publicadas no relatório semanal de morbidade e mortalidade (MMWR) do CDC publicado em 03/09/21, revelando que entre crianças e adolescentes dos EUA até 17 anos, os casos de COVID-19 e as visitas a emergência e internações hospitalares aumentaram durante junho a agosto desse ano.

Em agosto de 2021, isso ocorreu principalmente nos estados com cobertura vacinal mais baixa.

O aumento nas internações hospitalares pela COVID-19 neste estudo ocorrera principalmente entre crianças com ≤4 anos ou 12-17 anos.

No caso da Covid-19, o risco de complicações em crianças permanece baixo, o que talvez leve alguns pais e responsáveis a acreditarem  que o risco/benefício para as vacinas não justifica imunizar esse grupo.

Mas não é verdade.

Embora a Covid grave seja rara em crianças, ela ocorre, e pode acarretar sequelas a longo prazo.

Tanto vacinar quanto não vacinar, para Covid ou outras doenças são escolhas. E não vacinar traz consequências seríssimas como a volta de doenças como sarampo e poliomielite, e a irresponsabilidade de expor a criança ou adolescente a um risco desnecessário de contrair uma doença infecciosa evitável.

Vacinar é tomar uma decisão, uma escolha, “enquanto não vacinar me isenta da responsabilidade, eu deixo para o destino decidir…” Mas não é.

Mas e o medo de reações após a vacina?

A maioria dos efeitos colaterais que ocorrem com o uso da vacina é leve e transitória.

Os eventos adversos mais comuns após a vacinação são dor no local da aplicação, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, dor nas articulações e febre. E outras mais raras, como a miocardite, que tendem a assustar mais…

As infecções virais há muito tempo são uma causa de miocardite, uma inflamação do músculo cardíaco (miocárdio) que pode resultar em hospitalização, insuficiência cardíaca e morte.

Num levantamento realizado pelo CDC americano usando um grande banco de dados baseado em mais de  900 hospitais americanos houve um incremento nas internações por miocardite em 42,3% maior em 2020 do que em 2019 – atribuído ao SARS-Cov-2. Durante o período de março de 2020 a janeiro de 2021, período que coincidiu com a pandemia de COVID-19, o risco de miocardite foi de 0,15% entre os pacientes com COVID-19 durante internação ou cuidado ambulatorial e 0,01% entre os pacientes que não foram diagnosticados com COVID-19.

Em 31 de agosto de 2021, um relatório semanal de morbidade e mortalidade do CDC (MMWR) revelou que pacientes com a COVID tiveram 16 vezes mais risco de miocardite comparado com aqueles que não tiveram a COVID. Adultos com mais de 75 anos e crianças tinham risco maior de miocardite.

E uma observação importante, diagnosticar e notificar miocardite durante a covid é muito menos comum do que quando isso acontece como reação vacinal. O sistema de vigilância de vacinas é mais robusto e mais fiel do que o sistema de vigilância clínica na doença. Isso é fato, e mesmo assim é muito mais descrito na doença do que como reação vacinal em todos os países em que a vacinação de adolescentes já está acontecendo há muito tempo!

Outro ponto importante é que entre aqueles menores de 16 anos com a COVID-19, alguns diagnósticos de miocardite podem representar casos de síndrome inflamatória multissistêmica (SIM) que tem sido nossa preocupação nessa faixa etária – com acometimento de pelo menos 2 órgãos e forte presença de marcadores inflamatórios nos exames, que seria a forma grave da Covid nas crianças

Desde a introdução das vacinas de RNAm pra COVID-19 nos Estados Unidos em dezembro de 2020, um risco de miocardite entre os receptores da vacina de RNAm COVID-19 foi observado, particularmente entre homens de 12 a 29 anos, com 39-47 casos esperados de miocardite, pericardite e miopericardite por milhão após doses da vacina COVID-19 administradas.

Um estudo recente de Israel relatou que a vacinação de mRNA COVID-19 foi associada a um risco de miocardite (com uma razão de risco = 3,24); e no mesmo estudo, mostrou que a infecção por SARS-CoV-2 foi um forte fator de risco para miocardite (razão de risco = 18,28), portanto 6 vezes maior.

Dados globais sobre vacina em adolescentes mostram que a miocardite pós-vacina é cerca de 30 vezes mais rara do que a causada por Covid-19 nesse grupo. São cerca de 63 casos de miocardite a cada milhão de segundas doses de vacina de RNAm em meninos, e de 8 por milhão em meninas.

Os casos de miocardite pós vacina, são raríssimos como os números mostram, são menos graves do que os causados pela doença, com só 1,5% dos casos chegando a necessitar de UTI, não deixando sequela nem morte.

Dados publicados no final de julho pelo CDC americano revelaram eventos adversos para cerca de 1 para cada 1.000 vacinas numa população de 8,9 milhões de adolescentes vacinados entre dezembro e julho.

O CDC junto do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas do governo americano recebeu 9.246 notificações entre jovens de 12 a 17 anos após receberem a vacina Pfizer / BioNTech, de cerca de 8,9 milhões de adolescentes vacinados e as condições comuns relatadas foram tonturas e dor de cabeça. De acordo com o site do CDC americano, os sintomas mais comuns que aparecem nos adolescentes após a vacina são dor e vermelhidão no braço, cansaço, dor de cabeça, calafrios, febre e náuseas. Nem todas as pessoas sentem os incômodos — e, mesmo naquelas que apresentam esses efeitos colaterais, o quadro costuma ser leve e dura poucos dias. Já a falta de ar, dor no peito e palpitação não são sintomas comuns em jovens. Se acontecer, é muito importante procurar o seu médico de confiança até para a realização de alguns exames como eletrocardiograma, dosagem de troponina (principal marcador bioquímico utilizado nas suspeitas clínicas de lesão cardíaca) e outros marcadores inflamatórios, que podem auxiliar no diagnóstico.

Uma outra publicação recente no Jama Cardiology acompanhou 15 adolescentes com sintomas de miocardite após receber o imunizante da Pfizer, 14 meninos e uma menina, de idades entre 12 e 18. Os pacientes ficaram hospitalizados por 5 dias, e nenhum precisou de UTI. No acompanhamento 13 dias após a alta, 11 casos estavam completamente resolvidos.

Segundo dados divulgados numa publicação da Nature, foram detectados 67 casos de miocardite a cada milhão de meninos de 12 a 17 anos vacinados com a segunda dose. Em meninas, essa taxa ficou em 9 casos por milhão de imunizadas, então meninos possuem maior risco.

Existe uma pesquisa numa cidade do oeste do Paraná, em parceria com o curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em que adolescentes com 12 anos começaram a ser vacinados contra a Covid-19 a partir do dia 30/08. A imunização para esse público faz parte de um estudo da Pfizer, em que o município representa os países em desenvolvimento. Logo teremos mais respostas.

Mais de 30 países já vacinaram cerca de 10 milhões de adolescentes. Vocês acham que se fosse errado a EMA agência reguladora da União Europeia, FDA dos EUA, MHRA do Reino Unido, Health Canada e TGA AUSTRALIANA teriam mantido vacinação nessa faixa etária?

Em 23 de junho de 2021, o Comitê Consultivo em Práticas de Imunização concluiu que os benefícios da vacina COVID-19 superavam claramente os riscos de miocardite após a vacinação. Até porque a taxa de mortes por Covid nas crianças brasileiras é cerca de 7 vezes maior do que nas americanas e 15 vezes maior do que nas inglesas. A Síndrome Inflamatória Multisistêmica é rara, mas mata quatro vezes mais no Brasil do que nos EUA.

Por isso tudo, os benefícios da vacinação (prevenção, hospitalizações e mortes) superam em muito os riscos.

Mas ainda assim existem dúvidas sobre vacinar ou não os adolescentes. Um dos argumentos é que não existem estudos atestando a segurança da vacinação para esse público, o que é falso.

O primeiro artigo publicado em 15 de julho de 2021 na The New England Journal of Medicine apresentou os resultados de testes clínicos realizados pela Pfizer com 2260 adolescentes de 12 a 15 anos de idade, dos quais 1131 receberam a vacina e 1129 receberam uma injeção de placebo. Não houve eventos adversos graves gerais, nem relacionados à vacinação, cuja eficácia apurada foi de 100%.

A vacina não seria licenciada sem estudo.

Em 23 de agosto, o FDA (órgão regulador americano) aprovou definitivamente a primeira vacina contra a COVID-19 que é a Vacina Pfizer-BioNTech. Para indivíduos de 12 a 15 anos de idade, a vacina ainda está sob autorização para uso emergencial por lá e para a administração de uma terceira dose em algumas situações. Aqui no Brasil a Anvisa tambem autorizou a indicação da vacina da Pfizer para crianças com 12 anos de idade ou mais. Até o momento, dia 29/09/21 esta é a única vacina autorizada no Brasil para aplicação em menores de 18 anos.

O laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, de São Paulo, até submeteram um pedido à Anvisa para que a CoronaVac também ganhasse essa aprovação para uso nos mais jovens (de 3 a 17 anos), mas ainda não houve liberação das autoridades sanitárias brasileiras. Os técnicos da Anvisa consideraram que esse imunizante ainda não tem evidências suficientes para ser usado em crianças e adolescentes. Eles requisitaram mais informações e estudos antes de realizar uma nova análise do pedido.

Por outro lado, apesar dos adolescentes não serem considerados grupo de risco para COVID-19, principalmente aqueles com comorbidades estarão mais suscetíveis a desenvolver quadros graves da doença. Os jovens com fatores de risco para covid-19, como doenças cardíacas, diabetes e as gestantes já deveriam, inclusive, estar vacinados há algum tempo. Uma coorte global de 1500 crianças e adolescentes com câncer e COVID-19 que foi publicada em 26 de agosto desse ano no The Lancet, mostrou que ocorreu doença grave e crítica em um quinto dos pacientes e as mortes ocorreram em uma proporção maior do que a relatada na literatura na população pediátrica em geral. Esses resultados reforçam que crianças e adolescentes com câncer estão em alto risco de desenvolver doença COVID-19 grave e por isso precisarão ser vacinadas logo…

Então para resumir, a ciência é muito clara sobre o que precisa ser feito. A comunidade científica serve para alertar, mas não toma as decisões.

E quais são os pontos a favor da vacinação dos jovens?

1. Por mais que a gente saiba que as crianças com covid-19 evoluam muito melhor e se recuperem, temos algumas que ficam muito doentes e acabam hospitalizadas visto o aumento dos casos e internações pela doença entre os mais jovens em vários locais nos últimos meses.

2. A história desse coronavírus ainda está sendo escrita e não se sabe tudo sobre ele e as possíveis repercussões futuras à saúde. Estudo publicado essa semana revela que a vacinação diminui a chance de Covid longa.

3. Crianças e adolescentes por apresentarem doença mais leve e serem mais assintomáticos, podem transmitir mais facilmente. A vacinação, portanto, ajudaria a bloquear um pouco essa transmissão comunitária.

E por fim, vacinar os mais jovens é manter as escolas abertas com menor risco de transmissão intraescolar e protegendo professores, auxiliares e pais…

Além disso, devemos considerar a dimensão do coletivo! Não estamos tratando apenas de um, do indivíduo, estamos falando do todo. 

Para sairmos mais rápido da pandemia, vacinar adolescentes é fundamental. Estamos vivendo uma pandemia dos não vacinados e quanto mais gente vacinada, melhor para todos. Adolescentes e crianças raramente adoecem, mas também transmitem.

Por eles, e por todos nós, vacinar os jovens é desejável e necessário. E riscos de efeitos adversos raros sempre existirão, para estas ou outras vacinas. Mas os riscos de doença costumam, historicamente, ser muito maiores e mais devastadores.

Depois do que já falei pra vocês, caso haja uma reação grave após vacina, é fundamental que estes resultados sejam registrados na notificação de casos suspeitos à Anvisa.

Notificar eventos adversos e questões técnicas exigem pronta ação e uma resposta rápida por parte do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).

O link pra notificar está aqui embaixo pra vocês!

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/notificacoes

Portanto, a decisão é: sim, vacine seus adolescentes.

Sigamos com fé.

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