O sono tem um papel fundamental no bom desempenho profissional, pois atenção, coordenação motora, ritmo mental e principalmente o alerta são influenciados pelo estado de fadiga. Esta necessidade de sono varia de pessoa para pessoa. Isto pode ainda levar a consequências tanto na saúde física como mental, distúrbios neurais, fadiga, cansaço, sonolência, irritabilidade, ansiedade, depressão, problemas sexuais e estresse.
A sonolência do trabalhador pode ocorrer devido tempo total de sono insuficiente ou a uma maior fragmentação do sono, ou seja, impacto na qualidade ou na quantidade de horas de sono. Ela contribui significantemente para os erros e aumento do risco de acidentes nos variados locais de trabalho e isto pode afetar desde operações simples até mais complexas, em escritórios, hospitais, plataformas petroquímicas e nos sistemas de transportes. Vários trabalhos indicam um maior número de acidentes durante o período do turno noturno em relação ao turno diurno.
Muitos estudos indicam um aumento no risco de acidentes em função do tempo de trabalho. Este risco aumentado seria em torno de 9 horas após o início do turno de trabalho. Já com 12 horas de trabalho este fator aumentaria em dobro, e com 14 horas de trabalho contínuo este fator de risco aumenta em três vezes.
Um estudo realizado pelo Departamento de Medicina Respiratória da Univ. British Columbia, publicado pela “Sleep Medicine” em dezembro de 2007, pacientes com Síndrome da Apneia obstrutiva do sono (SAOS) podem ter impacto negativo sobre sua performance no trabalho. Neste estudo, a escala de sonolência de Epworth foi aplicada, para avaliar sonolência diurna e um questionário de limitação para atividade no trabalho. Foram avaliados 428 voluntários, com questionários completos, com idade média de 49 a 12 anos e IMC 31 a 7. Em determinado grupo de trabalhadores, evidenciou-se diferença entre apneicos leves e aqueles com Apneia do sono grave, com relação ao tempo de capacidade administrativa (23,1% do tempo versus 43,8%, p=0,05) e interações mentais/pessoais (17,9% vs.33%, p=0,05). Existiu forte associação entre sonolência subjetiva e pela escala de Epworth e 3 das 4 escalas de limitação para o trabalho. Então, pacientes com escala de sonolência de Epworth = 5 tem muito menos limitação ao trabalho quando comparado com escala = 18 (muito sonolentos), em termos de manejo de tempo (19.7% vs. 38.6 %, p<0.001), relacionamento interpessoal-mental (15.5% vs. 36.0%, p<0.001) e produtividade no trabalho (16.8% vs. 36.0%; p<0.001). Sonolência impacta muito negativamente na atividade laboral.
Do grupo que seguiu o estudo, 49 foram reavaliados e 33 que usaram o aparelho de CPAP – pressão positiva continua em vias aéreas mostrou significativa melhora entre a primeira avaliação com relação ao tempo de capacidade administrativa “time management” (26% vs. 9%, p=0.0005), relação interpessoal e mental (16% vs. 11.0%, p=0.014) e produtividade (18% vs. 10%; p<0.009). A conclusão deste estudo revelou que existe forte relação entre sonolência excessiva e redução da capacidade laborativa em uma população referenciada como suspeita a ter Apneia do sono.
A realização de screening para sonolência e para distúrbios respiratórios do sono (apneia do sono) pelas empresas tem um potencial de identificar uma causa frequente e reversível de perda de produtividade laboral, visto que o tratamento da Apneia do sono pode melhorar a capacidade de trabalho.
Outro estudo publicado no “European Respiratory Journal”, em fevereiro de 2008, comparou pacientes jovens e pacientes de meia idade com Apneia do sono, com relação à presença de morbidade e necessidade de utilização de cuidados de saúde. Pacientes jovens não tiveram aumento da incidência comparado com grupo controle sadio. Ao contrário, o grupo de meia idade com Apneia do sono apresentou maior risco cardiovascular. A utilização de cuidados de saúde em um período de 5 anos foi 1.9 maior entre homens jovens e de meia idade com Apneia do sono do que o grupo de controle, sem apneia.
Para confirmar que a presença de distúrbios respiratórios do sono causa impacto negativo nos gastos em saúde e como comorbidade em portadores de Apneia do sono, outro estudo, desta vez publicada no “Journal of the American Geriatrics Society”, também em fevereiro de 2008, revelou que gastos em saúde em 2 anos após diagnóstico de Apneia foram 1.8 vezes maior em idosos e pacientes de meia idade do que naqueles sem Apneia do Sono. Os gastos com saúde foram quase 2 vezes maiores que no grupo controle sadio. A conclusão desse estudo revelou que pacientes com Apneia do sono têm alta taxa de utilização dos serviços de saúde por comorbidade cardiovascular e uso de medicações psicoativas.
E por último, outro estudo comenta sobre o impacto econômico provocado negativamente pela apneia do sono, publicado em fevereiro de 2008 na “Lung”. A Apneia do sono não tratada aumenta utilização de serviços de saúde e está associada à baixa performance laborativa e doenças ocupacionais. O impacto econômico da Apneia (SAOS) não tratada envolve bilhões de dólares por ano. Além disso, o tratamento da SAOS é extremamente custo-efetivo para os recursos dos serviços de saúde, comparado com outras terapias médicas. E a conclusão deste artigo sugere que deve ser mais bem divulgado para órgãos governamentais, transportadoras, indústria e companhias de insumos o impacto econômico que a SAOS não tratada pode causar e ao contrário, os grandes benefícios da terapia adequada com CPAP.
Gleison Guimarães – CRM 52661996
Pneumologia e Medicina do sono